Faz dois meses que fui ver Savage Beauty, a exposição sobre a obra do estilista Alexander McQueen, e confesso que tem sido difícil encontrar palavras para descrevê-la aqui. Arrebatadora e espetacular são alguns dos adjetivos que vinham à mente enquanto eu caminhava entre as suas criações geniais. Mas… como explicar o que despertou essas sensações? Resolvi tentar de uma vez, antes que a exposição acabe – e prometo tentar usar a palavra genial o mínimo possível 😉
Nos últimos anos pipocaram exposições sobre grandes nomes da moda, e essa foi a primeira que eu fui. Savage Beauty é um passeio pelas principais coleções de McQueen, mas eu saí de lá convencida que essa não é uma exposição de moda, e sim de arte, design e, sobretudo, criatividade.
A exposição começa com seu projeto de graduação da Central St. Martins, uma das principais escolas de moda e ofícios artísticos do mundo. Sua genialidade me conquistou naquele momento. Peças de alfaiataria perfeitamente executadas, mas com um quê de bizarro: uma jaqueta forrada de cabelo humano, um sobretudo com estampa de arame farpado e uma calça que faz “cofrinho” de propósito são alguns exemplos. Esse cara realmente pensava fora da caixa!
McQueen estagiou em uma fábrica de uniformes militares, onde ganhou a desenvoltura na alfaiataria, para depois, como ele mesmo disse, desconstruí-la. As citações que permeiam a exposição revelam o seu espírito transgressor e uma busca por discutir e fugir dos padrões estabelecidos pelo mundo da moda, e por surpreender sempre. Talvez tenha sido isso que me tocou na exposição: essa vontade de desafiar o convencional, de questionar o que todo mundo acredita, de ver beleza onde os outros não veem.
A exposição segue para suas primeiras coleções, quando trabalhava para Givenchy. Em uma delas, ele transformou quadros do pré-Renascimento em vestidos, nos quais os desenhos encaixavam perfeitamente nas formas femininas com cortes precisos, de modo a deixar partes chave das obras em destaque.
Um presente para os olhos é a coleção que invoca as tradições japonesas, assim como a que faz referência às suas origens escocesas, que trouxe à tona a discussão sobre a valorização da cultura e tradição escocesas no Reino Unido atual. O tartan, aquele tecido de padrão quadriculado dos quilts (as saias que os homens escoceses usam) foi a base para vestidos extravagantes e femininos. E o tecido não era um tartan qualquer, mas o tartan McQueen (cada padrão tem um nome).
Outro ponto com o qual me identifiquei com McQueen é o entusiasmo pela tecnologia. Ele sempre dava um jeito de aliar a inovação tecnológica à sua moda, e sempre de forma magistral. Um dos momentos clímax da exposição (são vários!) é o vestido que foi pintado por robôs durante um desfile. Um vídeo ao lado do manequim reproduz a cena da pintura, com a modelo fingindo não entender o que acontecia. Outro momento wow (e paro por aqui para não estragar a surpresa) foi o desfile que terminou com uma holografia de Kate Moss voando sobre a plateia, como se fosse uma criatura etérea. São tantas sacadas geniais que me arrepio só de lembrar.
A exposição foi idealizada pelo Metropolitan Museum of Art de Nova York e exibida lá pela primeira vez em 2011, mas ganhou novas peças e nuances britânicos para a versão do V&A (que por sinal, é um dos meus museus preferidos!), como a sua primeira coleção, com peças emprestadas por proprietários.
Tudo o que eu contei aqui não é nem 10% da exposição, que pode render umas boas 2 horas de visita. Tudo ali remete a uma mente absolutamente brilhante. Infelizmente, esse gênio cometeu suicídio em 2010, com apenas 40 anos. Fico triste ao imaginar o quanto o mundo poderia ter ganhado em produção criativa e inovação se ele tivesse ficado por 40 anos mais. Mais do que um estilista, McQueen para mim é um artista e sinônimo de explosão criativa.
Uma das citações expostas diz (tradução livre minha): “Quando eu estiver morto, as pessoas saberão que Alexander McQueen começou o século XXI”. Não tenho nenhuma dúvida disso.
Se eu te convenci a comprar um ingresso (não ganho nada com isso!), espero que você ainda consiga um no site do museu. Para quem quiser arriscar ir sem ingresso, o museu garante no site que disponibiliza pelo menos 200 entradas por dia direto na bilheteria (chegue o mais cedo que puder).
Se você quiser continuar lendo sobre a exposição, recomendo a excelente reflexão da Tininha no Espaço Garimpo (e ela agora voa solo na Bússola Cultural!) e a crítica da Mari Campos.
Como não é permitido tirar fotos na exposição, as imagens neste post são de divulgação. Crédito das fotos: Sølve Sundsbø, Metropolitan Museum of Art of New York
Um beijo pra Nicole que me convidou e foi comigo! :*
'Exposição do momento: McQueen no V&A' have 4 comments
16/06/2015 @ 7:18 pm Silvia
Amei!
05/07/2015 @ 5:11 pm Deb
19/06/2015 @ 6:49 pm Denise
Muito legal! Ainda bem que já estou com ingresso comprado. Tentei dar nota 5 ao teu post, mas saiu 4.75. Nota 10!
21/06/2015 @ 5:26 pm Deb
Que bom que você curtiu o post, De! Depois conta o que você achou da exposição.
beijos e obrigada pela visita!